terça-feira, outubro 05, 2010

O que você pensa sobre o amor?


Ainda há o amor!

Eu estava sentada, esperando o ônibus e fui testemunha de uma cena que, hoje, pode ser considerada rara. À minha frente dava para notar uma padaria. Saiu dali um casal de idosos de mãos dadas! Não pensem que eu achei estranho, impróprio ou vulgar, nada disso. Eu me surpreendi isso sim. Achei como tantos outros acham, que essa de amor para sempre havia se tornado “história de pescador”. Cheguei a desconfiar do “até que a morte os separe”, frase típica do casamento. Confesso, desconfiei do casamento também. Estamos na era de relacionamentos curtos, abertos, sem compromisso; na era de “azarar”; na era das “ficadas”. Casamento já é difícil; casamento duradouro quase impossível; casamento duradouro, sadio, pleno e feliz está em EXTINÇÃO praticamente (não considere exagero!).

Saíram rindo, conversando. Os olhos dele ao olhar para ela chegavam a brilhar. Parecia que haviam se conhecido naquele instante, e ainda curtiam o início da paquera. Atravessaram a rua, ainda de mãos dadas e seguiram em minha direção. Pararam no ponto de ônibus onde eu estava. Poxa era difícil de acreditar mesmo! Estavam parados e mesmo assim as mãos continuavam entrelaçadas, os olhos continuavam a brilhar e,às vezes, era fácil notar que os olhos dele e os seus gestos faziam perguntas que apenas ela era capaz de responder. Eu estava literalmente “segurando vela”. Mas não podia fugir nem fingir que estava sozinha, pois não estava. Tinha que esperar meu ônibus que, analisando bem, naquele dia, custou a passar.

Eles eram casados. Já previa, mas agora tinha certeza. Pude confirmar isso nas alianças que cada um usava na mão esquerda. Mas não me contentava. Sou curiosa e não iria aguentar ficar ali, ao lado daquele casal de namorados eternos (torço para ser), sem saber a quanto tempo eles eram casados. Se pelo menos o ônibus passasse... Perguntei. E a resposta, dada por ambos, (não ao mesmo tempo, claro) faço questão de transcrever:

“- Estamos juntos há 48 anos e meio. Melhor, casados há esse tempo, pois tanto esforço merece ser ressaltado não é? Esforço danado mesmo. Meio século atrás eu fui à casa de minha amada esposa pedir a mão dela ao seu pai em casamento. Ainda recordo-me da cara feia do Sr. Joaquim sentado entre nós naquela cadeira de balanço tão temida. Lembra amor?”

E ela respondeu:

“-Claro que me lembro. Como poderia esquecer? Eu rindo baixinho, porque se risse alto papai acharia que estava zombando da cara dele e acabaria com o nosso namoro. Mas fizemos tudo direitinho: conhecemo-nos, cortejamo-nos, conversamos e só então começamos a namorar. Hoje o povo parte logo para os beijos e depois se conhece, conversa. Ainda não me acostumei, nem quero. Negócio estranho.”

Fiquei pasma. Nossa! –exclamei em silêncio. Quarenta e oito anos e meio é muito tempo. Tenho amigas que não suportam beijar o mesmo garoto durante uma noite. Como esse casal consegue?

Desculpei-me pela curiosidade e dei parabéns pela união estável e apaixonada. Trocamos algumas palavras e depois me disseram que o ônibus estava demorando muito, então pegariam um táxi. O táxi parou. Despedimos-nos e eles caminharam em direção ao veículo. Fiquei tão maravilhada com aqueles dois. E triste ao mesmo tempo. Pensei que, talvez, nunca mais fosse conhecer um casal tão apaixonado como aquele.

Tornei a olhar para trás e percebi que a despedida ainda não estava no fim. Ele a beijou. Abriu a porta do táxi para ela entrar e se encaminhou para outra porta. Caramba! Quem faz isso hoje? Eu não conheço. Não depois de tanto tempo de casado.

Talvez ninguém naquele lugar tenha acompanhado aquele casal como eu acompanhei. Estava tão encantada pelo mundo naquele momento, tudo eram flores. Lamento por quem perdeu a chance de acompanhar esse capítulo da história deles. O ônibus chegou. Eu subi e sentei. Parti. Só não partiram as lembranças daqueles dois em minha memória. Que eu tenha a sorte, um dia, de revê-los e lembre-me de agradecê-los, pois desde aquele dia a certeza de que ainda há o amor sempre me acompanha.

Jéssica Santana do Nascimento


4 comentários:

Anônimo disse...

Gente do céu, eu fiquei pasma com o seu post! Sua sensibilidade de contar os fatos é muito, muito fashion (não achei outra palavra! rs.)Bom, descobri o seu blog por meio do google, como sempre! Eu estava procurando imagens para um trabalho de português que fala sobre a adolescencia e aí apareceu uma imagem do seu blog. Fui vendo os posts e cada vez fiu querendo mais e mais. Até que eu achei esse que fala sobre o amor, e que amor hein? Meus avós fizeram ano passado 60 e poucos anos de casados, mas mesmo assim, eles não tem esse romantismo todo. Que sonho! Tô amandoo.
bejus Laísa. ♥

Jessy disse...

Ah, Laísa, obrigada pelos elogios. é um amor idealizado mesmo, mas acho que ainda existe- espero que sim!
'-'
Parabéns para seus avós!
beijãoo. Jessy

Denise Pires disse...

Eu simplesmente fiquei emocionadíssima com esse post, minha ruiva. Até chorei, confesso. Sonho com um amor assim... =)

Jessy disse...

Ohh, my galegaa! Tu quer eé?
kkkkkkk
Vai encontrar, relaxaa...
(: